Quando é que podemos passar a declaração de óbito do nosso telefone pessoal?
Esta é uma questão que me tem vindo a atormentar. Já há algum tempo que o meu telefone tem dado sinais de que a sua saúde não está boa. De vez em quando trava e dá sinais de que o "coração" não está muito bom. Nessas alturas levo-o lá à Av. Paulista ao "hospital" dos eletrónicos, troco a bateria e faço o checkup e normalmente ele aguenta-se mais uns tempos. Mas ultimamente as coisas não correram muito bem e depois do último acidente de queda ele está às portas da morte. Então resolvi refletir sobre os alguns anos que passamos juntos!
Foi um bom telefone. "Nasceu" em Maio de 2013, depois de um "rapto" do equipamento anterior (Welcome to Brazil!). Nasceu de barriga de aluguer, e foi encomendado via Estados Unidos (mais ou menos como o filho do Cristiano Ronaldo!), de onde veio à boleia na mala de uma amiga. Logo que chegou a terras brasileiras começou a trabalhar a todo o vapor. Acompanhou-me por toda a parte. Com ele senti-me mais perto de casa todos os dias, fosse via FaceTime, e-mail e todas as redes sociais possíveis.
Com ele fiz mais quilómetros do que (pelas minhas contas) em todo resto da vida. Atravessei da América do Sul à Asia, fiz várias ligações transatlânticas. Ele apanhou chuva, esteve na praia, e ainda fez emissões de todos os países por onde a minha família andou.
Com ele registei todas as coisas boas pelas quais passei. Os casamentos, os nascimentos, até as que não consegui registar ele deixou-me ver. Seja pela janela do Facebook ou Instagram, os quais consumiram grande parte dos meus dados e uma parcela dos meus salários também!), seja pelo Whatsapp, onde giraram centenas de milhares de bytes. Dei os parabéns aos meus amigos mais longínquos, e não só a esses mas também aos que moravam comigo. Salvou-me de boas, principalmente quando me esqueci das chaves de casa! Dei e recebi boas e más notícias. Chorei frente a ele. Troquei mensagens queridas, enviei mensagens das quais me arrependi e aguardei por mensagens que nunca chegaram. Também pus muitos pontos no i's.
Este pequeno aparelho também registou a maioria dos meus passos. Deixou-me feliz quando bati records de passos diários ou km de bike! Pude tirar muitas notas, fiz listas de supermercados, li milhares de páginas de livros. Deu-me alguns sustos, principalmente quando no último ano me mostrava a conta bancária! Perdeu-se num táxi quando voltava de um casamento e foi cair a um quarto de hotel de uns desconhecidos. Felizmente eram boas pessoas e devolveram-mo assim que se aperceberam.
Este útimo fim de semana ele caíu e começou a dar as últimas ao som de Marisa Monte. Acho que foi um bom fim, embora eu tivesse esperança que ele pudesse viver mais um pouco. Mas uma morte digna pelo menos.
Felizmente hoje existe uma nuvem, então todas as nossas lembranças ficam guardadas. Não é como antigamente em que andavamos de amigo em amigo, a recolher os contactos perdido (quem nunca!?). O próximo vai de certeza absorver todo o conhecimento que este trouxe e vai trazer ainda mais algum. Essa é a vantagem da tecnologia não é? Nunca sofrerá de Alzheimer.
Muitos podem achar estas palavras capitalistas e de loucura nesta época de geração Y! Parece que ganhamos apreço a bens materiais e tecnologia. Mas não acho nada disso. Vejo este aparelho como uma ponte, uma ferramenta que me ajudou a estar mais próximo das pessoas, acompanhar tendências, e, no fundo, acho que isso nos deixa mais felizes. É nesta altura que entram os antigos e aversos à tecnologia para dizer que no passado é que era bom... mas isso é só para quem não provou o futuro e as suas vantagens certo?
Próximas linhas serão concerteza escritas com base em notas de um outro aparelho. Não sei quando vão acabar os smartphones, mas que dão um jeitaço, lá isso dão!
*Mari
P.S. escrito em Português de Portugal (estou a tentar não me esquecer e conseguir sempre destinguir as duas versões do idioma).
1 comentário:
Amiga, que bem escrito... Eu só comecei a dar mais valor ao meu quando o usei para partilhar momentos com a Alice com aqueles que são importantes para nós... e é verdade, são pontes que nos ligam com o nosso "universo particular" :) beijinhos cheios de inveja de teres ido ouvir a Marisa Monte
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