Nós os Portugueses nunca fomos muito com a cara dos Espanhóis. Eu nem sei porquê, porque a era da dinastia Filipina já foi há tanto tempo, que já nem nos devíamos lembrar. Mas o que é certo é que o provérbio prosperou e continua na boca de muitos portugueses até hoje: "de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento!". Mas acho que é um defeito não só ibérico, porque brasileiros e argentinos sofrem do mesmo mal, e lá no fundo até se amam.
O fato é que somos cada vez mais uma mistura de Portunhol. Portugueses e Espanhóis entraram de mãos dadas para a "CEE", abriram-se as fronteiras, misturaram-se as universidades, abriram empresas ibéricas (cuja identidade nem é de um lado nem do outro), não são raros os casos dos casais ibéricos! Os roteiros turísticos misturaram-se de tal modo que às vezes me perguntam se Santiago de Compostela é Portugal (!). A Ryanair nem se fala... a maioria das vezes que atravesso o Atlântico "entro em Portugal" por Madrid (que diga-se de passagem é bem mais barato!). E mesmo a Espanha sendo uma monarquia, mesmo que democrática, é bem diferente de Portugal (graças a Deus!). No final das contas quando precisamos de ajuda somos todos iguais. Fomos cúmplices também durante a crise que abalou os dois países, principalmente na minha faixa etária. Anyway, para o bem ou para o mal, temos um laço inegável.
O que se tem vivido na Catalunha, embora seja uma realidade muito diferente de Portugal, é fisicamente muito próxima dos "tugas". E mesmo eu, estando do outro lado do Atlântico, não posso deixar de me sensibilizar com o que se passa por terras vizinhas.
Desde criança que ouço essa conversa de que a Catalunha é um estado à parte de Espanha. Que lá é o "Mónaco espanhol" e tal... Quando fui a primeira vez a Barcelona, foi de acompanhante da minha mãe que foi a trabalho, e eu ainda era criança a entrar para a adolescência. Lembro-me que já nessa altura, ir a Barcelona era um acontecimento. Parecia que íamos para outro planeta de tanta fama de cosmopolita que tinha a cidade. Embora, nessa altura, eu tivesse mais curiosidade em visitar o estádio olímpico ou até mesmo o museu do Picasso (do qual me lembro bem de ter saído beeem escandalizada com tanto quadro sexual que o homem pintou numa certa época da vida dele!), o fato é que não encontrei uma Espanha diferente do resto do país por onde já tinha passado. Não senti qualquer diferença no modo em que me trataram. Um língua mais complexa talvez. De resto, tudo a mesma coisinha dos galegos, dos bascos, dos madrilenos e por aí fora. Não entendo, ainda hoje, muito bem o porquê dessa rebeldia da região, mas acho que é coisa de Espanhol do Norte, que comparado às outras comunidades, tende a ser mesmo meio rebelde. Fico a
pensar o que aconteceria se São Paulo, só porque gera quase 40% dos impostos no
Brasil, resolvesse tornar-se independente? O que seria do resto e vasto
território brasileiro? Teríamos eleições estaduais por aqui? Mas pode também dever-se ao fato de eu só conhecer a Catalunha como turista e talvez por não estar tão dentro dos meandros da política nacional e das comunidades autónomas como chamam aos estados por lá.
Bom tudo isto para chegar à conclusão que não sei como as comunidades conseguem chegar a este ponto? Em pleno século XXI e numa União Europeia famosa pelo seu progresso em todas as áreas?! Como chegamos ao ponto de mandar a polícia evitar que as pessoas votem? Com imagens de violência como as que apareceram hoje no jornal, com idosos metidos ao barulho? Esta é uma situação preocupante... E acho que é um sinal de alerta para informar que os Espanhóis deixaram de se falar. E pior... seguindo uma tendência meio que global! Nunca houve tanta facilidade de comunicação como hoje em dia, mas parece que a comunicação política está em crise. Os governos (nacionais, estaduais, municipais...) não se falam! Ainda está para vir o dia em que a reunião entre Trump e Kim seja via Twitter: com restrição de carácteres.
Espanha, vamos deixar de brincar de D. Pedro e o seu grito do Ipiranga e começar a dialogar?
Vou deixar aqui abaixo as primeiras perguntas que me surgiram quando vi que o "sim" no tal do plebiscito venceu:
-Será que a Catalunha quer ter um Brexit 2?
-A praça de Espanha (Barcelona), vai continuar com esse nome?
-Será que para parar em Girona vamos ter que andar de passaporte em punho? -E no final das contas, expliquem-me lá como é que o Barça vai viver sem enfrentar o Real Madrid?
Brincadeiras à parte é assim que as coisas estão em Espanha de nuestros hermanos...
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