segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Post #55 - Portugal/Brasil ou Moção de Censura ou "Impeachment"

Por aqui e pelo resto do mundo quando se fala em Brasil só se ouve a palavra Impeachment.  Esta palavra cara não é muito diferente da também igualmente falada expressão: moção de censura.

Ambos processos de destituição, com o mesmo fundamento: falta de confiança! 

Aqui no Brasil o tal do Impeachment é um conceito legislado. Trocar um presidente da República por falta de confiança, após apenas um ano de mandato é uma coisa consideravelmente séria. A dona Dilma continua a dar que falar e não desiste mesmo dessa cadeira conquistada. O problema é que a teimosia ou simplesmente convicção e vontade de fica no poder por ter sido eleita há pouco tempo, estão a deixar o país num estado extremamente instável... não há economia que aguente esta descoberta de tesourinhos, um atrás do outro, cada um com mais zeros associados.  A quantidade de pessoas envolvidas nos escândalos é absurda. Então ninguém mais acredita... "vira bagunça" como se diz por aqui.

Acho que por terras lusas, infelizmente o povo já se habituou. Ou pelo menos o volume de pessoas envolvidas em "trafulhices" é menor... mas nunca fiz a conta à proporção (quiçá me surpreendo!). Mas, diga-se de passagem, a quantidade de zeros que se discutem é significativamente menor quando falamos em escândalos políticos em Portugal ou no Brasil! Os Portugueses trazem um histórico de mais de meia dúzia de anos já em crise. Existem muito mais olhos internacionais a controlar. Que remédio têm os tugas se não se adaptarem! Um ano atrás do outro as pessoas driblam a crise e sonham denovo com o tempo novo das vacas gordas, que no final das contas dificilmente mais existirá. 

Aqui a crise bateu agora à porta. As pessoas acham que é o fim do mundo... mas é tudo uma questão de perspectiva... o 13° continua a cair na conta e também não há cortes nos feriados! As pensões começam a sofrer, mas aqui há tão poucos velhos! Por aqui o desemprego subiu para 8%... e as pessoas já pensam: aqui-de'l-rei que não teremos o que comer! Mal sabem que os lusos andam lá na casa dos 13% e já estivemos pior.

Eu divirto-me nas comparações entre estes dois pedaços de terra tão iguais e tão diferentes. Não existe comparação possível claro está... Um celular topo de gama aqui custa 10 salários mínimos. Em Portugal vai para 1 ou 2 no máximo. Um "chefe" ganha 30 vezes o salário da secretária, pode isto?! Não sei quem está certo ou errado, ou se existe até essa definição, mas que as comparações são surreais... de fato elas são!

Felizmente temos maneiras diferentes de enfrentar a crise. Como já falei por aqui, os brasileiros têm alguma coisa no sangue que os faz esquecer... Pensei na cerveja, mas é alguma coisa mais forte! É algo que os faz virar a página e continuar... eles são o copo meio cheio. Os lusos por sua vez, precisam de digerir os golpes, e demoram um bocadinho mais a sair das urgências (UTI). Só que a recuperação nos cuidados intensivos é forte. (Copo meio vazio). Ainda acho que os lusos saem mais fortes e mais preparados, mas pode ser que seja só um nacionalismozinho falando.

E agora a grande questão por aqui é: até quando lutar pela causa, ou abandonar o barco e dar oportunidade a outros? Enquanto isso... um país a todo vapor.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Post #54 - Em busca de um destino

Este fim de semana tive a curiosidade de ir a uma exposição no SESC Pinheiros de uma artista chamada Chiharu Shiota, uma japonesa que se mudou para a Alemanha e já ganhou diversos premios. É uma exposição bem simples, que consta apenas de 3 obras, mas que me deixou maravilhada e achei por bem partilhar.

A exposição chama-se "Em busca do destino". E que melhor título poderia ter se não este para me chamar à atenção? 

Pois bem vejam o significado das 3 obras, que são todas baseadas em doações das pessoas.

A primeira, e a mais louca de todas na minha opinião, chama-se "Cartas de Agradecimento". Basicamente é uma teia de aranha gigante (350km de lã!!!) feita de 3000 cartas de agradecimento que a artista foi recolhendo. Deixo algumas como exemplo abaixo. E são todas bem curiosas! Perdi mais de uma hora num espaço de uma sala só para ler sobre o que as pessoas agradeciam. Uns a Deus, uns aos filhos, uns aos pais, até há pessoas que agradecem a si mesmas! (Vale a pena ver este vídeo)







A segunda chamada "Acumulação" é uma instalação de malas antigas suspensas. Significa a bagagem que trazemos... e as coisas verdadeiramente importantes que obviamente carregamos connosco sempre. E o que somos nós se não uma acumulação de experiência boas e más? A tão falada "bagagem"? A instalação é feita de malas que a artista recolheu por feiras de antiguidades e afins. As malas são suspensas aqui no SESC em cima das escadas rolantes que dão acesso à alimentação... Ora um lugar bem indicado para que eu pudesse pensar na minha bagagem... entre escadas rolantes de aeroportos e shoppings, quanta bagagem não acumulei?!




E por fim "Além dos continentes", que está bem na moda. vejam-se as manifestações por Paris dos sapatos na Praça da Republica. Neste caso com várias doações de sapatos de diversas pessoas pelo mundo. Sapatos finos, sapatos rústicos, sapatos de criança, alta e baixa sociedade. 



Todos os trabalhos são ligados por linhas, que segundo a autora representam as ligações entre as pessoas e as coisas. 

Bom já falei aqui sobre o SESC e o que penso sobre esta organização. Uma das melhores do mundo. Mais uma supresa. 

#ObrigadaSESC
#MaisBagagem
#FicaaDica


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Post#52- Loucuras de amor. Quem nunca?

Hoje escrevo para contar sobre uma surpresa que resolvi fazer. Como é bom sermos surpreendidos pela positiva. 


Loucuras por amor, quem nunca cometeu que lance a primeira pedra ou que deixe de ler agora, porque estas linhas são  para pessoas apaixonadas. Por qualquer tipo de coisa, por pessoas, animais, entidades,... Enfim... Apaixonadas pela vida.

Estou prestes a entrar num avião para um quase "bate e volta" ao outro lado do Atlântico. Sou emigrante há 3 anos e pico, e já deixei passar muitos acontecimentos com medo do gasto, da responsabilidade e da loucura em si. Desta vez resolvi arriscar... Afinal, não é todos os dias que o nosso pai faz anos ;)

Época difícil para o negócio e as crises estourando, mas se assim não fosse não seria uma loucura. Loucurinhas são ótimas!
As loucuras são mais intensas, mais sofridas, mais tudo. São as verdades que temos que dizer a alguém que sabemos que vai doer, ou por outro lado as mesmas verdades que se omitem para não vermos as pessoas tristes, são as decisões de aceitar os desafios difíceis quando há algo bem mais fácil, é a coragem de partir atrás de alguém que se quer muito, ou ficar para tomar conta daquela pessoa, mesmo quando o futuro parece sorrir num outro lugar. 

Loucuras de amor são essas coisas loucas que tiram o sono, mas que nos dão o brilho nos olhos do dia a dia, e que nos fazem escorrer a lágrima na hora da emoção. São essas loucuras que nos fazem ser felizes e ter vontade de viver o dia seguinte. 
E surpreender alguém por loucura é tão bom ou até melhor do que ser surpreendido. 

#partiuPortugal
#loucuras
#portugalBate&Volta
#aniversarioPapá
#atéjáSampa

sábado, 7 de novembro de 2015

Post#53 - Loucuras de amor (cont.) - "Nunca vi um avião, e é tão grande!"

Ora bem, cheguei ao meu destino. Depois de uma visita curta voltei para o ativo, mas tinha que registar a viagem que fiz pois foi sem dúvida inesperada.

Falei no último post sobre loucuras de amor... achando eu que uma viagem de ida e volta em poucos dias era loucura. Nesta viagem de regresso, tive a impressão que o meu gesto foi menos impactante.

Vejamos...

Estava eu a despachar a mala, quando duas senhoras (visivelmente atrapalhadas), me abordaram perguntando se eu ia para o Brasil. Com certeza que ia... estava no despacho de bagagem que dizia São Paulo! A princípio pensei que me iam pedir para despachar alguma coisa delas. Logo preparei o meu "NÃO", porque nos dias que correm, não dá para confiar em nada, nem mesmo quando as pessoas aparentam ser humildes. Mas na verdade o que queriam era uma ajuda, pois uma delas ia viajar a primeira vez na vida para fora do país, primeira vez de avião... e logo para o Brasil!

Meio desconfiada lá optei por ajudar, mal sabia eu no que me ia meter...

Depois das últimas despedidas (sempre difíceis), e da minha mãe me meter uns xanax no bolso, não fosse a senhora ter algum surto, lá parti para as mil e uma verificações feitas nos aeroportos... eu e a D. Maria de Lurdes, uma senhora nos seus 50 anos que parecia mais assustada que qualquer outra pessoa naquele aeroporto. Passámos o raio X, a verificação do passaporte e chegámos à porta de embarque. Ainda não estava na hora, por isso ficámos sentadas e eu tentei acalmá-la um pouco. Disse-lhe que andar de avião não custava nada, nem à primeira, e que eu já fazia este percurso há 3 anos (grande coisa, pensei só depois!). Ela foi se acalmando e depois olhou pela janela e disse-me assim: "Nunca vi um avião na vida... e é tão grande!". Achei bizarro mas muito honesto da parte dela, não só pela informação em si, mas pela maneira como ela disse aquilo. Então só nesta altura é que estabeleci um carinho pela D. Maria. Daqui para a frente foi só surpresas. 

Descobri que a D. Maria de Lurdes ia passar uns tempos com uma das filhas que vivia há 3 anos no Brasil e que tinha 29 anos como eu. Essa filha viveu 10 anos em Londres onde entretanto conheceu o marido (brasileiro) e mudou-se para Londrina. Recentemente descobriu um tumor cerebral que lhe dá ataques epiléticos e pediu à mãe para vir passar uns tempos cá pois tem uma filhinha de 2 anos. A D. Maria nem pensou duas vezes. Largou  o marido e duas filhas mais novas, bem como a casa na Póvoa de Lanhoso e os campos que cultiva e lançou-se para o Brasil.

Nisto entramos no avião e cada uma foi para a sua cadeira. Foi um voo tranquilo e nem tive contato com ela, pois incumbi o hospedeiro de tratar muito bem dela, já que eu estava na outra ponta do avião.

Após a chegada é que foram elas... 
  • Primeiro: a D. Maria estava a passar na polícia e calhou de dizer que ia ficar 6 mesinhos com a filha... ora como turista o máximo que se pode ficar por aqui são 90 dias e olhe lá... o pessoal da alfândega já não foi nada simpática e assustou a pobre da mulher dizendo que tinha que pagar multa. Lá a acalmei... no final das contas era só regressar a casa mais cedo e ia ter que mudar a viagem.
  • Segundo: a senhora resolveu viajar sem um real na carteira e só os 30€ que teria que trocar em algum banco para pagar ao suposto taxista que a sobrinha tinha contratado pela internet para a ir buscar e levar ao hotel. Claro que esse taxista nunca apareceu! Ficamos duas horas à procura, e ainda escrevi um papel (que até envio em foto abaixo) com o nome da Senhora, para tentamos achar o homem... sem sucesso!
  • Terceiro: tentativa de troca de euros na casa de câmbio... claro que não funcionou, porque simplesmente 30€ era quase o valor da taxa que se paga pelo serviço de conversão. Lá saquei uns reais e troquei-lhe pelos euros.
  • Quarto: tentativa de contacto com a filha... sem saber mexer no telemóvel a D. Maria pediu-me para lhe ligar do telemóvel dela à filha que estava em Portugal para tentarmos achar o contacto desse bendito taxista. Só que a senhora tinha saldo reduzido no telemóvel e não conseguimos grandes informações.
Depois de uns quilómetros queimados no aeroporto, lá a convenci a apanhar o táxi comigo para que eu a deixasse no hotel e simplesmente aceitar o fato de que esse taxista não ia aparecer!
Chegada ao hotel... a reserva que ela trazia impressa do booking e feita pela sobrinha, foi quase impossível de encontrar pela recepção e também não estava paga... ou seja os poucos reais que tinha no bolso, ela teve que investir para deixar meia reserva paga.  A irmã ia chegar no dia seguinte (espero!) para partirem para Londrina e reencontrarem a tão esperada filha da D. Maria.

Pedi para a levarem ao quarto e a ajudarem, porque claramente não ia conseguir enfiar a chave de cartão na porta do quarto e ia se perder totalmente no meio do hotel. Deixei o meu cartão com o telefone e mandei uma mensagem à filha que estava em Portugal para que ela lhe carregasse o telemóvel e lhe ligasse.

Saí do hotel com um nó no coração e pensei que às vezes quando pensamos que a nossa vida é atribulada, vem alguém que nos mostra que é tudo uma questão de perspectivas.
A simplicidade está nos pequenos gestos de coragem. Cada um atravessa o Atlântico com as suas razões... Uns para passar um aniversário importante, outros sem dinheiro nem mínima destreza para tratar da filha doente... 
Agora digam-me... isto não é uma loucura de amor?

(este foi o papel com que corri Guarulhos para ver se encontrava o bendito homem que ia buscar a D. Maria. Sem sucesso, apenas andei distraída por 2 horas a vaguear procurando alguém que provavelmente nem existe!)


Vi esta frase hoje no Pinterest e achei boa para partilhar neste post também :)

sábado, 29 de agosto de 2015

Post #51 - Asilo ou deportação?

Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro

"emigrante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/emigrante [consultado em 29-08-2015].
Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro

"emigrante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/emigrante [consultado em 29-08-2015].


 e·mi·gran·te
(latim emigrans, -antis)
adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros
Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro.


e·mi·gran·te
(latim emigrans, -antis)

adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros

Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro.
Confrontar: imigrante.

"emigrante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/emigrante [consultado em 29-08-2015].
e·mi·gran·te
(latim emigrans, -antis)

adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros

Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro.
Confrontar: imigrante.

"emigrante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/emigrante [consultado em 29-08-2015].
Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro

"emigrante", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/emigrante [consultado em 29-08-2015].

Um assunto da atualidade é a emigração. Não podia deixar de escrever sobre este assunto, não fosse exatamente "eu" o que chamam de caso de estudo.

A minha condição de emigração é bem superior à destas pessoas que ultimamente têm sido barradas de entrar na Europa, quando não mortas a caminho do destino.
A questão é: será que todos não procuramos pela mesma coisa? Paz e estabilidade. Se eu saí de um país, que embora em crise, é um país civilizado, sem acontecimentos bizarros, imagino o quanto eu não gostaria de sair de um país onde queimassem as mulheres infiéis vivas, onde colocassem os vídeos de pessoas a serem mortas no YouTube, onde sair à rua pode significar ser morto... Eu não ia ficar num lugar assim.

O jornal diz-me que este ano a previsão é de 270.000 entradas na Europa até agora. Já foi ultrapassado o número de entradas do ano de 2014 fechado. A média é de 1 imigrante para cada 1.900 europeus. Considerando que a cidade onde cresci tem 40.000 habitantes realmente é preocupante...

É uma questão muito delicada... Sim a Europa prega-se como uma civilização comprometida no abrigo das pessoas refugiadas, e sim a Europa é um dos locais mais estáveis para se viver no mundo, e sim a Europa tem uma política de imigração bastante condescendente. Mas a Europa é obrigada a receber todos? 

Bom, a Europa precisa de gente nova. A população está envelhecida e a população que trabalha tem vindo a diminuir. Esta onda de entrada pode ser uma reversão para este problema. Mas a Europa é constituída por diversos países em que cada um tem as suas leis. Existe uma política comum, e todos têm que cumprir determinadas regras, mas cada país tem alguma liberdade para estabelecer as suas regras também. Por exemplo à Dinamarca esta política não é aplicável e o Reino Unido e Irlanda estabelecem as regras de imigração europeias que querem implementar ou não. É uma grande confusão. Mas enfim mais detalhes no site da união europeia (aqui).

Os estudos (segundo os jornais) dizem que em geral os imigrantes não são as pessoas que cometem mais crimes. Ao contrário. Quando ajudados "pelo sistema" são pessoas que criam empresas, trabalham e geram riqueza. Compreende-se... saem de um local onde são mal tratados e chegam a um local onde querem prosperar. Eu sou suspeita para falar... Mas a Europa terá trabalho. Há que criar estrutura, escolas para compensar o "gap" de conhecimento, ensinar a língua, centros de recuperação psicológica para crianças e adultos que vêm com traumas de serem refugiados etc., etc. Tem também a dificuldade geográfica, pois a maioria dos imigrantes entram pelos países que neste momento não podem acolher nem os próprios quanto mais os outros (Grécia por exemplo). E ainda a preocupação do terrorismo, que tem andado tão na baila... é preciso um trabalho redobrado na segurança.

Claro que este rolo todo só se aplica a emigrantes não europeus, porque para os Europeus a Europa já trabalhou (e muito bem) nas regras fronteiriças com o Acordo de Schengen. É ótimo podermos viajar de Ryanair para todo o lado sem nos pedirem quase nenhuma informação... Mas se formos não europeus a coisa muda de figura. Vistos, identidades e papeladas mil são pedidas. Já assisti a várias cenas em aeroportos, especialmente quando volto para a Europa de férias, em que comigo viajam outras pessoas que não tiveram a mesma sorte de nascer no "berço de ouro".

Da minha experiência nada tenho a reclamar. Sou emigrante na América do Sul. Nunca fui barrada de entrar, mas sempre apanho a fila dos emigrantes na entrada. De vez em quando perguntam-me uma ou outra coisa, mas nada constrangedor. Pago os meus impostos ao país que me acolheu (nem sempre caem nos bolsos certos, mas enfim isso são outras questões), tento ser uma cidadã com exemplo a dar e uso dos conhecimentos "europeus" para tentar ajudar no que me é possível. Modéstia à parte, eu acredito que sou uma boa contribuição para o país que me acolheu. Acho honestamente que muitas das pessoas que estão a tentar entrar na Europa sentirão o mesmo. Simplesmente não tiveram as oportunidades que precisavam no país que as viu nascer. Talvez como eu... É junto expulsar ou deportá-los, ou limitar as suas entradas?

Maioria de todos já "migrou" pelo menos de cidade, à procura de uma condição melhor, estabilidade, trabalho, enfim... Quais os limites? Quais as regras? Difícil...

Aconselho um filme francês que vi há pouco tempo, chama-se SAMBA (https://www.youtube.com/watch?v=i3mHgMsHvUM). É realmente muito bom e deixou-me a pensar nestes assuntos.

Prometo mais notícias em breve.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Post #50 - o dia da digital



O departamento de estrangeiros da polícia federal é um lugar de grande mistura cultural.  Como não podia deixar de ser ouvem-se mil línguas diferentes e tem lista de espera de uma ponta a outra do planeta. Existem os "facilitadores" (sem conotação negativa) que são contratados pelos próprios estrangeiros e que ajudam um e outro estrangeiro a preencher papéis ou a traduzir informações simples como se a pessoa é solteira ou casada, ou tentam decifrar o endereço. Profissaozinha difícil a de entender os nomes dos japoneses que estão a par comigo na lista de espera e pior que isso gritar a alto e bom som para ver se a pessoa está presente. Alguns dos estrangeiros assustam-se ou fazem cara feia, tentando decifrar se o nome dito é efetivamente o deles. Graças à boa tecnologia, o Gogle translator também tem um papel importante por aqui. Alguns tablets da emigrantada têm uma utilidade fenomenal!  Aqui todos sentam nas mesmas cadeiras empoeiradas. Tem o executivo suíço com a esposa impecavelmente vestida a par com os dois filhos de cabelo praticamente branco de tão loiro. Tem os dois espanhóis que provavelmente estavam sem trabalho e vieram para cá, família da Etiópia que não fala uma palavra de português e a quem estão tentando extrair o endereço de tampávamos... E por aí vai.  O processo é lento... Burocrático. O staff da polícia federal é bem rude e conversa pouco ou nada com os estrangeiros. Eu estranho isso, dada a a natureza dos brasileiros. Mas acredito que seja um local de trabalho tenso.  Ainda troco um olhar com a esposa Suíça que se diverte tal como eu a otimizar mentalmente o processo. Seria tão mais fácil com umas senhas digitais e sem esta dança das cadeiras. Sempre que chamam uma pessoa todas se levantam para andar mais uma cadeira. Ele ri-se para mim também divertida.  "TAKASHI ISHIKAWA... T-A-K-A-S-H-I!!" O nome anuncia que eu sou a próxima. Hora de passar os dedos nas telas digitais... Um por um. Três anos e três meses depois precisamente! Sou mais uma neste bolo misturado de raças por São Paulo! Agora oficialmente residente!Vamos lá sujar os dedos.. Agora não me safo!Até já!

domingo, 3 de maio de 2015

Post #49 - 3 anos de Brasil "to be or not to be"

Ontem completei 3 anos de Brasil. Uma vitória! Para quem veio com visto de 2 anos sem plano muito definido. E cá estou. depois de 3 anos, 10 anos mais velha e com bastantes coisas para contar aos netos. Quase 1100 dias depois trago debaixo do braço experiências únicas, como a conhecer pessoas doidas, pessoas divertidas, pessoas sérias (poucas, pois é difícil encontrar um brasileiros muito sisudos), depois de me envolver em projetos grandes, outros pequenos, me entranhar na cultura brasileira a todos os níveis e sem "frescuras". 3 anos sem um carro, onde acho que meti mais quilómetros nas pernas do que em quaisquer outros 3 anos da minha vida. E acreditem que vi e passei em lugares doidos. Meti na bagagem coisas que não conseguiria adquirir em Portugal (isso é certo!).

Mas de há uns tempos para cá, não há um dia em que não me depare com um brasileiro choroso do país em que vive. Juro que quase penso que estou em Portugal denovo!
A discussão e a insatisfação é grande. Ninguém quer a "presidenta" no governo, da mesma maneira que ninguém queria o Sócrates. Surgem até manifestações nas janelas batendo com panelas, nas ruas gritando "fora Dilma"

Começa a gerar-se a dúvida. Brasil estar ou não estar? Deixei Portugal à procura de alguma coisa que me fizesse bem. E encontrei. Muitos desafios e muitas dificuldades também. Não há um dia em que não aconteça alguma coisa nova. Tal é turbilhão de mudança que se vive por aqui.  Mas eu, como acho que todos os emigrantes, sempre tenho a impressão que um dia vou acordar e sentir "agora é hora de partir". Será que isso acontece mesmo? Até agora ainda não chegou esse dia, mas quem sabe esteja para chegar.





Estas foram tiradas há precisamente 3 anos... E já lá vão 3 anos!

Link para o meu primeiro post escrito de SAMPA. Já passaram bastantes coisas... http://marianamoreiradias.blogspot.com.br/2012/05/post-003-resumo-dos-primeiros-dez-dias.html

*Mari


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Post #48 Sem água, navegando na internet à chuva

Já é tarde. Estou sentada na sala de casa virada para a janela a ver a chuva cair. É chuva forte, como a daqueles dias de inverno rigorosos que temos em Portugal. A diferença é que aqui a temperatura vai alta e o vento abana as palmeiras que são bem mais comuns por estes lados do que do lado do jardim da Europa à beira mar plantado.
Agora o tempo está mais calmo, mas há umas horas fiquei presa nas enchentes que fecharam a Av. Santo Amaro. Não sem antes ter cruzado o shopping para ver qual o novo lugar para onde tínhamos que comprar um balde, por que os lugares onde entra água da chuva se multiplicam a cada dia. As infiltrações, quedas de telhado e árvores são constantes com a força das águas que vêm do céu. Aparecem crateras no meio das estrada por evasão de terra levada pela água, os semáforos deixam de funcionar, e as estradas são cortadas. Felizmente (até ver) a internet mantém-se!(bendito quem inventou o 3G e afins...)

Levanto-me para ir à cozinha deixar um prato sujo que estava solto em cima da mesa e aproveito para tentar lavá-lo. Mas... a torneira não pinga. Estamos sem água! A situação já era espectável... estamos em crise! A crise da água.

São Paulo está "mergulhada" numa crise de seca como nunca viveu. A população cresceu demais e as infraestruturas não acompanharam. O resultado está à vista. Lá fora tudo alagado. Cá dentro sem água. Uma vida bizarra.

Soluções poucas ou nenhumas. Toda a gente fala em poupar e reaproveitar, mas investimento para novas formas de reaproveitamento nenhum. Por aqui ainda se andam a pagar as contas do Natal que pesam no cartão de crédito. A facilidade do novo mundo onde uns sapatos podem ser comprados parcelados em doze vezes. Incentivos do governo para projetos de reaproveitamento? Nenhuns. Nem a própria empresa pública distribuidora de água parece muito coesa. Falo pelo pequeno contato que tenho como mini administradora de condomínio que (aparentemente) estou a aprender a ser. Um shopping é, sem dúvida uma pequena cidade, com manifestações tão parecidas a um município como sequer alguém possa pensar. No fim das contas é um trabalho duro o de "ministrar as obras públicas" do condomínio, mas que tem uma abrangência tão grande que me leva das lágrimas às risadas.

Voltando, dá-me dó ver um país com o potencial do Brasil a viver desta maneira. Se as coisas vão mudar? Acredito que sim, para melhor ou pior estaremos aqui para ver! O bom daqui? É que os brasileiros não estão a sofrer com isso como estaríamos nós Portugueses se estivéssemos dentro desta crise. Por aqui a liberdade de expressão não está em crise e já são incontáveis os cartoons relacionados com a causa. Até já se pensa em adiar o Carnaval...!



Deixo aqui um texto que achei bem interessante para quem quiser espiar o "fundo do poço" que se vive por aqui por aqui.

A recuperação do nível do Sistema Cantareira pode levar até 10 anos. Enquanto isso, a população vai continuar a crescer.

Prometo dar notícias em breve (com ou sem chuva).

*Mari