sábado, 7 de novembro de 2015

Post#53 - Loucuras de amor (cont.) - "Nunca vi um avião, e é tão grande!"

Ora bem, cheguei ao meu destino. Depois de uma visita curta voltei para o ativo, mas tinha que registar a viagem que fiz pois foi sem dúvida inesperada.

Falei no último post sobre loucuras de amor... achando eu que uma viagem de ida e volta em poucos dias era loucura. Nesta viagem de regresso, tive a impressão que o meu gesto foi menos impactante.

Vejamos...

Estava eu a despachar a mala, quando duas senhoras (visivelmente atrapalhadas), me abordaram perguntando se eu ia para o Brasil. Com certeza que ia... estava no despacho de bagagem que dizia São Paulo! A princípio pensei que me iam pedir para despachar alguma coisa delas. Logo preparei o meu "NÃO", porque nos dias que correm, não dá para confiar em nada, nem mesmo quando as pessoas aparentam ser humildes. Mas na verdade o que queriam era uma ajuda, pois uma delas ia viajar a primeira vez na vida para fora do país, primeira vez de avião... e logo para o Brasil!

Meio desconfiada lá optei por ajudar, mal sabia eu no que me ia meter...

Depois das últimas despedidas (sempre difíceis), e da minha mãe me meter uns xanax no bolso, não fosse a senhora ter algum surto, lá parti para as mil e uma verificações feitas nos aeroportos... eu e a D. Maria de Lurdes, uma senhora nos seus 50 anos que parecia mais assustada que qualquer outra pessoa naquele aeroporto. Passámos o raio X, a verificação do passaporte e chegámos à porta de embarque. Ainda não estava na hora, por isso ficámos sentadas e eu tentei acalmá-la um pouco. Disse-lhe que andar de avião não custava nada, nem à primeira, e que eu já fazia este percurso há 3 anos (grande coisa, pensei só depois!). Ela foi se acalmando e depois olhou pela janela e disse-me assim: "Nunca vi um avião na vida... e é tão grande!". Achei bizarro mas muito honesto da parte dela, não só pela informação em si, mas pela maneira como ela disse aquilo. Então só nesta altura é que estabeleci um carinho pela D. Maria. Daqui para a frente foi só surpresas. 

Descobri que a D. Maria de Lurdes ia passar uns tempos com uma das filhas que vivia há 3 anos no Brasil e que tinha 29 anos como eu. Essa filha viveu 10 anos em Londres onde entretanto conheceu o marido (brasileiro) e mudou-se para Londrina. Recentemente descobriu um tumor cerebral que lhe dá ataques epiléticos e pediu à mãe para vir passar uns tempos cá pois tem uma filhinha de 2 anos. A D. Maria nem pensou duas vezes. Largou  o marido e duas filhas mais novas, bem como a casa na Póvoa de Lanhoso e os campos que cultiva e lançou-se para o Brasil.

Nisto entramos no avião e cada uma foi para a sua cadeira. Foi um voo tranquilo e nem tive contato com ela, pois incumbi o hospedeiro de tratar muito bem dela, já que eu estava na outra ponta do avião.

Após a chegada é que foram elas... 
  • Primeiro: a D. Maria estava a passar na polícia e calhou de dizer que ia ficar 6 mesinhos com a filha... ora como turista o máximo que se pode ficar por aqui são 90 dias e olhe lá... o pessoal da alfândega já não foi nada simpática e assustou a pobre da mulher dizendo que tinha que pagar multa. Lá a acalmei... no final das contas era só regressar a casa mais cedo e ia ter que mudar a viagem.
  • Segundo: a senhora resolveu viajar sem um real na carteira e só os 30€ que teria que trocar em algum banco para pagar ao suposto taxista que a sobrinha tinha contratado pela internet para a ir buscar e levar ao hotel. Claro que esse taxista nunca apareceu! Ficamos duas horas à procura, e ainda escrevi um papel (que até envio em foto abaixo) com o nome da Senhora, para tentamos achar o homem... sem sucesso!
  • Terceiro: tentativa de troca de euros na casa de câmbio... claro que não funcionou, porque simplesmente 30€ era quase o valor da taxa que se paga pelo serviço de conversão. Lá saquei uns reais e troquei-lhe pelos euros.
  • Quarto: tentativa de contacto com a filha... sem saber mexer no telemóvel a D. Maria pediu-me para lhe ligar do telemóvel dela à filha que estava em Portugal para tentarmos achar o contacto desse bendito taxista. Só que a senhora tinha saldo reduzido no telemóvel e não conseguimos grandes informações.
Depois de uns quilómetros queimados no aeroporto, lá a convenci a apanhar o táxi comigo para que eu a deixasse no hotel e simplesmente aceitar o fato de que esse taxista não ia aparecer!
Chegada ao hotel... a reserva que ela trazia impressa do booking e feita pela sobrinha, foi quase impossível de encontrar pela recepção e também não estava paga... ou seja os poucos reais que tinha no bolso, ela teve que investir para deixar meia reserva paga.  A irmã ia chegar no dia seguinte (espero!) para partirem para Londrina e reencontrarem a tão esperada filha da D. Maria.

Pedi para a levarem ao quarto e a ajudarem, porque claramente não ia conseguir enfiar a chave de cartão na porta do quarto e ia se perder totalmente no meio do hotel. Deixei o meu cartão com o telefone e mandei uma mensagem à filha que estava em Portugal para que ela lhe carregasse o telemóvel e lhe ligasse.

Saí do hotel com um nó no coração e pensei que às vezes quando pensamos que a nossa vida é atribulada, vem alguém que nos mostra que é tudo uma questão de perspectivas.
A simplicidade está nos pequenos gestos de coragem. Cada um atravessa o Atlântico com as suas razões... Uns para passar um aniversário importante, outros sem dinheiro nem mínima destreza para tratar da filha doente... 
Agora digam-me... isto não é uma loucura de amor?

(este foi o papel com que corri Guarulhos para ver se encontrava o bendito homem que ia buscar a D. Maria. Sem sucesso, apenas andei distraída por 2 horas a vaguear procurando alguém que provavelmente nem existe!)


Vi esta frase hoje no Pinterest e achei boa para partilhar neste post também :)

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