Hoje no pedido de café do Starbucks o rapaz brasileiro que me atendeu perguntou-me assim:
-"Você é do Porto não é?"
E
há muito tempo que eu não era questionada sobre esta característica.
Pensava até que o meu sotaque carregado do Norte já tinha passado!
Fiquei assim uns segundos parada a pensar como é que ele, em 3 ou 4
palavras, se tinha apercebido? E respondi: "sou sim! Como descobriu?!"
Ele respondeu-me: "tenho alguns amigos de lá e o seu sotaque não engana!"
Enchi-me de orgulho, claro, e o café até me soube melhor.
O rapaz podia ter-me servido o café sem dizer nada, e apenas ficar com essa dúvida existencial para o resto da vida. Mas não. Ele estabeleceu um contato comigo (que estava mais distraída a olhar para o Instagram, e nem ia olhar para a cara dele não fosse a indagação.
Se
há uma coisa que eu aprendi sobre os brasileiros é que eles têm uma
capacidade inata de se relacionar. Eu acho que existe um gene específico
desta nacionalidade. É incrível como, de uma onomatopeia ou suspiro,
aparece uma conversa, uma troca de opiniões e às vezes até uma amizade
de longo prazo. E embora os paulistas se gabem e digam que isso é coisa de São Paulo, das poucas vezes que saí daqui, sempre tive essas surpresas... então tem que ser uma coisa de brasileiro.
Uma
outra coisa bem interessante é que existe uma relação regional forte.
Os sotaques são vincados e por isso quando dois sotaques inicialmente
desconhecidos se encontram parece que automaticamente tem que trocar
ideias sobre como sentem saudades da sua cidade natal. É um pouco como
quando os portugueses se encontram no estrangeiro. Já me aconteceu por
aqui algumas vezes. Ouvimos um sotaque do norte e cria-se logo um campo
energético automático. Mas o interessante aqui é que isso acontece por
todo o lado, dada a grandeza deste país.
Hoje no café (um casal de
idosos e uma mãe com uma criança):
Mãe: "filha não pode corrrrer assim!" (fala a mãe carioca cerrado)
Casal do lado: "mas que lindo seu vestido menina. Mãe, você é carioca?"
Mãe: "sou... tricolor de coração. "
Idosa: "esse daqui é "doente""
Mãe: "meu marido também!"
Idoso: "já estamos aqui há uns anos mas ficam as saudades do Rio, pelo menos no calçadão eles (crianças) podem correr à vontade!"
Mãe: "nos também estamos há 9 anos. Habituámos rápido, mas ficam as saudades da praia."
(... + 10 minutos de papo jogado fora)
Idoso: "deixa seu telefone, já que moramos no mesmo prédio."
...
E quem sabe não se formou uma amizade.
E é nestas pequenas coisas que os brasileiros são realmente muito bons. Existe uma rapidez supersónica que nós portugueses até temos (quando reconhecemos um sotaque), mas não expressamos. detectamos que a pessoa é alfacinha com a maior das facilidades, mas não lhe perguntamos se ela/ele são de Lisboa! Seja porque somos desconfiados ou distraídos, ou porque sempre achamos que estamos a meter-nos na vida dos outros.
Toda a gente me pergunta o que ainda faço aqui no Brasil, com todas estas reviravoltas que se passam por estas bandas. "Portugal está na moda!", dizem todos os que me conhecem. Claro que só olham para as coisas boas: País mais seguro do mundo, melhores comidas, melhores bebidas, etc. e tal. E realmente tem muita coisa boa para dizer de Portugal.
Mas depois de alguma reflexão de domingo de manhã, acho que essa é uma das razões pelas quais ainda gosto daqui: comunicação.
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