segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Post #54 - Em busca de um destino

Este fim de semana tive a curiosidade de ir a uma exposição no SESC Pinheiros de uma artista chamada Chiharu Shiota, uma japonesa que se mudou para a Alemanha e já ganhou diversos premios. É uma exposição bem simples, que consta apenas de 3 obras, mas que me deixou maravilhada e achei por bem partilhar.

A exposição chama-se "Em busca do destino". E que melhor título poderia ter se não este para me chamar à atenção? 

Pois bem vejam o significado das 3 obras, que são todas baseadas em doações das pessoas.

A primeira, e a mais louca de todas na minha opinião, chama-se "Cartas de Agradecimento". Basicamente é uma teia de aranha gigante (350km de lã!!!) feita de 3000 cartas de agradecimento que a artista foi recolhendo. Deixo algumas como exemplo abaixo. E são todas bem curiosas! Perdi mais de uma hora num espaço de uma sala só para ler sobre o que as pessoas agradeciam. Uns a Deus, uns aos filhos, uns aos pais, até há pessoas que agradecem a si mesmas! (Vale a pena ver este vídeo)







A segunda chamada "Acumulação" é uma instalação de malas antigas suspensas. Significa a bagagem que trazemos... e as coisas verdadeiramente importantes que obviamente carregamos connosco sempre. E o que somos nós se não uma acumulação de experiência boas e más? A tão falada "bagagem"? A instalação é feita de malas que a artista recolheu por feiras de antiguidades e afins. As malas são suspensas aqui no SESC em cima das escadas rolantes que dão acesso à alimentação... Ora um lugar bem indicado para que eu pudesse pensar na minha bagagem... entre escadas rolantes de aeroportos e shoppings, quanta bagagem não acumulei?!




E por fim "Além dos continentes", que está bem na moda. vejam-se as manifestações por Paris dos sapatos na Praça da Republica. Neste caso com várias doações de sapatos de diversas pessoas pelo mundo. Sapatos finos, sapatos rústicos, sapatos de criança, alta e baixa sociedade. 



Todos os trabalhos são ligados por linhas, que segundo a autora representam as ligações entre as pessoas e as coisas. 

Bom já falei aqui sobre o SESC e o que penso sobre esta organização. Uma das melhores do mundo. Mais uma supresa. 

#ObrigadaSESC
#MaisBagagem
#FicaaDica


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Post#52- Loucuras de amor. Quem nunca?

Hoje escrevo para contar sobre uma surpresa que resolvi fazer. Como é bom sermos surpreendidos pela positiva. 


Loucuras por amor, quem nunca cometeu que lance a primeira pedra ou que deixe de ler agora, porque estas linhas são  para pessoas apaixonadas. Por qualquer tipo de coisa, por pessoas, animais, entidades,... Enfim... Apaixonadas pela vida.

Estou prestes a entrar num avião para um quase "bate e volta" ao outro lado do Atlântico. Sou emigrante há 3 anos e pico, e já deixei passar muitos acontecimentos com medo do gasto, da responsabilidade e da loucura em si. Desta vez resolvi arriscar... Afinal, não é todos os dias que o nosso pai faz anos ;)

Época difícil para o negócio e as crises estourando, mas se assim não fosse não seria uma loucura. Loucurinhas são ótimas!
As loucuras são mais intensas, mais sofridas, mais tudo. São as verdades que temos que dizer a alguém que sabemos que vai doer, ou por outro lado as mesmas verdades que se omitem para não vermos as pessoas tristes, são as decisões de aceitar os desafios difíceis quando há algo bem mais fácil, é a coragem de partir atrás de alguém que se quer muito, ou ficar para tomar conta daquela pessoa, mesmo quando o futuro parece sorrir num outro lugar. 

Loucuras de amor são essas coisas loucas que tiram o sono, mas que nos dão o brilho nos olhos do dia a dia, e que nos fazem escorrer a lágrima na hora da emoção. São essas loucuras que nos fazem ser felizes e ter vontade de viver o dia seguinte. 
E surpreender alguém por loucura é tão bom ou até melhor do que ser surpreendido. 

#partiuPortugal
#loucuras
#portugalBate&Volta
#aniversarioPapá
#atéjáSampa

sábado, 7 de novembro de 2015

Post#53 - Loucuras de amor (cont.) - "Nunca vi um avião, e é tão grande!"

Ora bem, cheguei ao meu destino. Depois de uma visita curta voltei para o ativo, mas tinha que registar a viagem que fiz pois foi sem dúvida inesperada.

Falei no último post sobre loucuras de amor... achando eu que uma viagem de ida e volta em poucos dias era loucura. Nesta viagem de regresso, tive a impressão que o meu gesto foi menos impactante.

Vejamos...

Estava eu a despachar a mala, quando duas senhoras (visivelmente atrapalhadas), me abordaram perguntando se eu ia para o Brasil. Com certeza que ia... estava no despacho de bagagem que dizia São Paulo! A princípio pensei que me iam pedir para despachar alguma coisa delas. Logo preparei o meu "NÃO", porque nos dias que correm, não dá para confiar em nada, nem mesmo quando as pessoas aparentam ser humildes. Mas na verdade o que queriam era uma ajuda, pois uma delas ia viajar a primeira vez na vida para fora do país, primeira vez de avião... e logo para o Brasil!

Meio desconfiada lá optei por ajudar, mal sabia eu no que me ia meter...

Depois das últimas despedidas (sempre difíceis), e da minha mãe me meter uns xanax no bolso, não fosse a senhora ter algum surto, lá parti para as mil e uma verificações feitas nos aeroportos... eu e a D. Maria de Lurdes, uma senhora nos seus 50 anos que parecia mais assustada que qualquer outra pessoa naquele aeroporto. Passámos o raio X, a verificação do passaporte e chegámos à porta de embarque. Ainda não estava na hora, por isso ficámos sentadas e eu tentei acalmá-la um pouco. Disse-lhe que andar de avião não custava nada, nem à primeira, e que eu já fazia este percurso há 3 anos (grande coisa, pensei só depois!). Ela foi se acalmando e depois olhou pela janela e disse-me assim: "Nunca vi um avião na vida... e é tão grande!". Achei bizarro mas muito honesto da parte dela, não só pela informação em si, mas pela maneira como ela disse aquilo. Então só nesta altura é que estabeleci um carinho pela D. Maria. Daqui para a frente foi só surpresas. 

Descobri que a D. Maria de Lurdes ia passar uns tempos com uma das filhas que vivia há 3 anos no Brasil e que tinha 29 anos como eu. Essa filha viveu 10 anos em Londres onde entretanto conheceu o marido (brasileiro) e mudou-se para Londrina. Recentemente descobriu um tumor cerebral que lhe dá ataques epiléticos e pediu à mãe para vir passar uns tempos cá pois tem uma filhinha de 2 anos. A D. Maria nem pensou duas vezes. Largou  o marido e duas filhas mais novas, bem como a casa na Póvoa de Lanhoso e os campos que cultiva e lançou-se para o Brasil.

Nisto entramos no avião e cada uma foi para a sua cadeira. Foi um voo tranquilo e nem tive contato com ela, pois incumbi o hospedeiro de tratar muito bem dela, já que eu estava na outra ponta do avião.

Após a chegada é que foram elas... 
  • Primeiro: a D. Maria estava a passar na polícia e calhou de dizer que ia ficar 6 mesinhos com a filha... ora como turista o máximo que se pode ficar por aqui são 90 dias e olhe lá... o pessoal da alfândega já não foi nada simpática e assustou a pobre da mulher dizendo que tinha que pagar multa. Lá a acalmei... no final das contas era só regressar a casa mais cedo e ia ter que mudar a viagem.
  • Segundo: a senhora resolveu viajar sem um real na carteira e só os 30€ que teria que trocar em algum banco para pagar ao suposto taxista que a sobrinha tinha contratado pela internet para a ir buscar e levar ao hotel. Claro que esse taxista nunca apareceu! Ficamos duas horas à procura, e ainda escrevi um papel (que até envio em foto abaixo) com o nome da Senhora, para tentamos achar o homem... sem sucesso!
  • Terceiro: tentativa de troca de euros na casa de câmbio... claro que não funcionou, porque simplesmente 30€ era quase o valor da taxa que se paga pelo serviço de conversão. Lá saquei uns reais e troquei-lhe pelos euros.
  • Quarto: tentativa de contacto com a filha... sem saber mexer no telemóvel a D. Maria pediu-me para lhe ligar do telemóvel dela à filha que estava em Portugal para tentarmos achar o contacto desse bendito taxista. Só que a senhora tinha saldo reduzido no telemóvel e não conseguimos grandes informações.
Depois de uns quilómetros queimados no aeroporto, lá a convenci a apanhar o táxi comigo para que eu a deixasse no hotel e simplesmente aceitar o fato de que esse taxista não ia aparecer!
Chegada ao hotel... a reserva que ela trazia impressa do booking e feita pela sobrinha, foi quase impossível de encontrar pela recepção e também não estava paga... ou seja os poucos reais que tinha no bolso, ela teve que investir para deixar meia reserva paga.  A irmã ia chegar no dia seguinte (espero!) para partirem para Londrina e reencontrarem a tão esperada filha da D. Maria.

Pedi para a levarem ao quarto e a ajudarem, porque claramente não ia conseguir enfiar a chave de cartão na porta do quarto e ia se perder totalmente no meio do hotel. Deixei o meu cartão com o telefone e mandei uma mensagem à filha que estava em Portugal para que ela lhe carregasse o telemóvel e lhe ligasse.

Saí do hotel com um nó no coração e pensei que às vezes quando pensamos que a nossa vida é atribulada, vem alguém que nos mostra que é tudo uma questão de perspectivas.
A simplicidade está nos pequenos gestos de coragem. Cada um atravessa o Atlântico com as suas razões... Uns para passar um aniversário importante, outros sem dinheiro nem mínima destreza para tratar da filha doente... 
Agora digam-me... isto não é uma loucura de amor?

(este foi o papel com que corri Guarulhos para ver se encontrava o bendito homem que ia buscar a D. Maria. Sem sucesso, apenas andei distraída por 2 horas a vaguear procurando alguém que provavelmente nem existe!)


Vi esta frase hoje no Pinterest e achei boa para partilhar neste post também :)