sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Post #85 Os meus 10 conselhos para passar por fusões e/ou aquisições

Passar por uma fusão e/ou aquisição (mais conhecidas como M&As) não é nada fácil. Eu nunca tinha pensado muito na possibilidade de passar por este tipo de processo, mas se algum dia pensei, achei que iria ser num período mais tardio da carreira. Porém com o trabalho no mercado brasileiro, que parece um turbilhão e está sempre a dar reviravoltas, isto acabou por acontecer mais rápido e intensamente do que eu pensava. Desta conta já lá vão três destes processos! Por isso resolvi compartilhar alguns conselhos que trouxe das minhas experiências (algumas "adversas"!) e que possam, eventualmente, interessar a pessoas que passam ou venham a passar pelos mesmos processos.
1º Não sofra por antecedência. Parece bastante óbvio, mas não é. Nestas andanças de fusões e aquisições aprendi que nem sempre os melhores profissionais (leia-se mais competentes) permanecem nas cadeiras onde estavam ou onde achávamos que deviam estar. Por isso não adianta muito passar horas sem dormir a pensar quem vai ficar neste ou naquele lugar. Estas mudanças ocorrem "teoricamente" para otimizar as empresas, seus resultados e consequentemente os mercados. Melhoram-nos porque nos trazem uma série de problemas para resolver (um leque de situações e reações que jamais pensávamos um dia passar - acreditem!) e com isso crescemos profissionalmente. Mas não necessariamente passamos para um estágio melhor da nossa carreira. Por isso bom mesmo é ficar "antenado" sempre.
2° Tire logo todas as tuas férias!Assim que decorram informações concretas sobre alterações previstas é bom rever o calendário de férias. Tanto o seu quanto o das pessoas que trabalham na sua equipa. Os tempos de M&A são sempre mais atribulados do que o normal. Entre processos de due diligence, apresentações, reuniões com novas pessoas, demonstrações de antigos e novos procedimentos, etc. etc. torna-se difícil estarmos fora do ambiente de trabalho nestas épocas. Por isso é bom estarmos renovados e com energia para estas fases que são bem desgastantes.
3° Conheça o meio de onde vem. É sempre bom refrescar os princípios da empresa onde trabalhamos antes das M&A's. Também os quadros e as pessoas que fazem parte dela. Assim podemos estar mais aptos a ter a nossa própria opinião sobre as mudanças que puderem acontecer e, eventualmente tomar melhores decisões. Também é bom sabermos bem o que andamos a fazer na nossa função. Conhecermos bem os processos e a nossa equipa é fundamental para estarmos preparados para eventuais mudanças. Nem sempre somos muito "velhos de casa" quando estas alterações acontecem. Nestes casos o melhor mesmo é estudar com mais afinco do que o normal o que temos em mãos.
4º Atualize-se! Como não é possível saber com antecedência o que vai acontecer, é bom rever o CV, LinkedIn e afins. Primeiro, porque normalmente deixamos sempre esse procedimento para as fases de "menor motivação" (ou quando estamos chateados com alguma decisão do chefe!). Segundo, porque normalmente sempre aparecem uns curiosos da empresa parceira para espiar o que andamos a fazer da vida. Por isso nada melhor do que ter as informações atualizadas. E terceiro porque se aparecer algum curioso externo também é bom ter as informações à mão com um nível mínimo de atualização. As oportunidades estão aí todos os dias e aparecem de repente. Nunca se sabe.
5º Converse com pessoas do setor. É bom conversar com pessoas das áreas onde trabalhamos para atualizar informações e discutir as novas tendências do mercado. Nestas fases é ainda mais importante interagirmos com este network. Também não custa nada o esforço.
6º Fale sempre muito com os seus colegas de trabalho. Principalmente se estiver numa função de liderança. As pessoas têm muitos receios nestas fases. Mui tas vezes muito mais receios do que nós próprios. Ou porque têm dependentes que precisam do salário mensal, do plano de saúde, porque estão a pagar estudos, porque têm medo de ficar sem trabalhar, enfim... npossibilidades que só quem passa por elas o sabe. Então tentar estar mais próximo das equipas sem o exagero de estar sempre a tocar no assunto é uma boa forma de diminuir a ansiedade de ambas as partes. Compartilhar as informações que não forem confidenciais também é bom. Sem medo de fofoca, sem mentiras e com profissionalismo acima de tudo. As pessoas gostam sempre de saber ou o que se passa, ou simplesmente que sejamos honestos e avisemos que não sabemos do que se passa! É exponencialmente mais difícil passar por processos de M&A quando as lideranças são fracas (garanto!).
7º Mantenha uma boa relação com fornecedores. Os fornecedores são muitas vezes uma das partes interessadas mais penalizada destes processos. Há sempre muitos interesses em jogo. Às vezes somos obrigados a deixar de trabalhar com um fornecedor, muitas vezes contra a nossa vontade, e a trabalhar com outras empresas que nem consideramos tão boas. E o rompimento às vezes é doloroso. Mas como a vida dá voltas (muitas mesmo!), é impossível dizermos "adeus" a este ou àquele fornecedor. O mesmo conselho dou a fornecedores. Às vezes levam demasiado a peito estas operações. Que jogue a primeira pedra quem nunca teve que voltar atrás para chamar alguma empresa que já dispensou antes!
8º Escolha as suas relações profissionais. Aproveite para descobrir quem mais admira profissionalmente, esta é uma boa fase para isso. Tive várias decepções e surpresas nestes processos. Não corte com pessoas que já lhe fizeram bem profissionalmente só porque tiveram que tomar alguma decisão mais drástica com você ou com alguém por quem você tem algum respeito profissional/pessoal. Entenda primeiro se foi uma decisão pessoal ou imposta e depois tire as suas conclusões. É difícil mas é possível...
9º Não deixe de focar no cliente. Apesar de todas as andanças que se passam nos bastidores, os clientes, sejam eles de qual setor forem (da indústria ao varejo), são sempre aqueles que não devem ser penalizados. Afinal, eles são fieis e estão ali para receber não menos do que a qualidade anterior que já era entregue. E são eles, na linha final da conta, que pagam o nosso salário.
10º Por fim, se tiver oportunidade, entenda a cultura da nova empresa. Sempre achei que devemos trabalhar para alguém e por alguma coisa que nos faça brilhar os olhos. Quando sofremos alterações na maneira de trabalhar ou de tomar as decisões nem sempre estamos alinhados com essa maneira de trabalhar. É quase como crença ou partido político. Acreditamos nesta ou naquela maneira de trabalhar e pronto! Logicamente temos que ser flexíveis para estarmos prontos para mudanças, mas não precisamos de atropelar os nossos princípios. Numa das minhas passagens por aquisição a mudança foi da "água para o vinho". Eu simplesmente não me identificava com a maneira de trabalhar da nova empresa. Para mim foi mais fácil para decidir que a nova fase da empresa poria fim ao meu ciclo por ali. O que quero dizer é que se isso lhe fizer sofrer e se tiver a possibilidade (sem desculpas e sem preguiças!) parta para o próximo desafio. Tenho certeza que será mais feliz e fará mais feliz as pessoas à sua volta. Se não tiver essa oportunidade e for daqueles que simplesmente não vão fazer parte da empresa nova reveja os 9 conselhos acima e vá à procura de alguma coisa que o faça feliz. Às vezes um empurrão é tudo o que é preciso para dar o passo na direção certa.

domingo, 22 de setembro de 2019

Post #84 Nacimento de uma empresa (SET/19)

O mundo dos negócios é muito dinâmico, basta passar alguns anos no mundo corporativo para se entender do que estou a falar. Por estes anos que tenho colecionado já passei por algumas transições, bastantes altos e baixos. Desta última vez estou a passar pelo nascimento de uma empresa.

Ora o nascimeto de uma empresa tem muito que se lhe diga. Há empresas que nascem da garagem de casa, empresas que nascem dentro de outras empresas, empresas que nascem entre dois familiares, etc. etc. Esta etapa pela qual passo agora é o nascimento de uma empresa através da fusão entre duas outras empresas. Também neste "modelo" existem vários tipos de possibilidades, mas geralmente quando são duas empresas que viram uma só, sempre temos uma que se sobrepõe à outra.

Hoje, no processo pelo qual passo, estamos num período bastante inicial no que toca a alterações. Elas começam a aparecer devagarinho e depois vêm com uma velocidade que nem conseguimos perceber. Normalmente vamos entender só muito depois quando a poeira acalma. Temos sempre esperança que não nos afetem de uma forma muito impactante, mas pelo pouco que já passei, na maioria das vezes não temos grande escolha. É difícil dizer que por ser um bom profissional a pessoa vai dar-se bem. Nem sempre o melhor prevalece quando temos uma cadeira para duas pessoas. O interessante é aprender a não sofrer com essa troca (de novo, nem sempre justa). Para esta etapa ajudam as pessoas do bem que vamos conhecendo. Ajudam muito.

Já passei por aquisição, venda e fusão será a primeira. Desta vez faço parte da empresa "mais fraca" dentro do negócio. Este tipo de movimentações é sempre muito sofrida no que toca a pessoas. As empresa tentam ser evoluídas (as que tentam!) para causar impactos menores na vida das pessoas, mas as mudanças são inevitáveis, e infelizmente não existe uma diretriz que obrigue as empresas a ajudar nas recolocações das pessoas que não se encaixam nos desenhos. É um mundo cão!

São muitas as histórias que ficam para trás com o fim de um ciclo assim. No mundo de shoppings as pessoas rodam muito dentro dos empreendimentos e de uma para outra empresa. Por isso acabamos por conhecer muita gente se "estivermos a fim de fazê-lo" como se diz por aqui. E que recompensa que é guardar e ter os bons do nosso lado.

Daria para escrever um livro sobre a empresa que fica para trás. A SSB foi uma escola e uma grande rampa de lançamento dos negócios portugueses no estrangeiro. Fazer parte dessa história é um orgulho imenso pelo qual uma "singular" como eu pode passar. A minha vinda para o Brasil foi totalmente transparente e inesperada, fruto de uma vontade imensa de ser independente e feliz. Deixei muitas coisas importantes para trás. Aqui tive algumas oportunidades muito boas, perdi algumas também, mas me tornei na profissional de hoje muito devido aos anos que por aqui passei (maioria da minha vida profissional). Nas idas e vindas conheci muitas pessoas. Conheci pessoas más, não tenho medo de escrever. Muitos profissionais ruins que no fundo me ajudaram a direcionar o meu caminho para o que eu não quero ser. Conheci profissionais incríveis que me direcionaram para o que eu realmente quero que seja a minha singela marca pelo planeta Terra. Esses tento manter junto comigo para a vida. Ouvi muitas histórias e vivi também muitas na pele. E como tem histórias para contar. Queria escrever todas! Quantas horas de aeroporto, quantos bastidores de shoppings, quantos acidentes de percurso, quantas pessoas! Fui de Rio Grande a Manaus nessa "brincadeira" de shopping. Quantas horas mal dormidas para fazer entregas que só me beneficiaram no aprendizado, porque no fundo no bolso não me trouxeram lá grande benefício. O mundo do verejo era-me totalmente desconhecido. A minha família não tinha histórico de negociantes, mas estudei e aprendi. Pelo menos um bocadinho dessa arte que espero usar e abusar daqui para a frente.

O futuro é incerto sem dúvida. Nasceu uma nova companhia, diz-se que a maior de shoppings do Brasil. Usamos agora a hashtag #juntossomosmais.
Uma nova fase se prepara e que tenha todo o brilho que teve a anterior. Aguardamos cenas dos próximos episódios que podem clarificar um pouco dos próximos passos que terei que dar.

Mari
 

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Post #83 - Desabafos dos 33

17/4/19 faço a idade de Cristo. 
Diz a maioria das pessoas que esta é a flor da idade, mas já ouço isso desde que me lembro de fazer aniversário. Todas as fases são. A adolescência é porque é a fase das descobertas, a maioridade porque (teoricamente) ganhamos juízo... e por aí vai. 
Mais ou menos entre os 20 e os 30 vamos tomando com muitas soluções que a vida nos dá e que não contavamos. Não contavamos mesmo! Não sabíamos que eram assim determinadas coisas... não sabíamos como as outras pessoas superavam determinadas coisas e ficavamos indignados com mutas coisas. Mas quando chegamos ao patamar dos cerca de 33 (para muitos certamente será mais cedo e para outros mais tarde), já temos uma certa maturidade. Afinal as pessoas mais velhas já começam a olhar para nós com cara de adulto. Ainda há um ou outro que não nos levam tão a sério e dizem coisas como: "ó... ela ainda é muito nova", ou "ui, ainda vai apanhar muito na vida". Mas depois lá entendem que temos mais de 30 e afinal de contas isso já é uma “idadezinha” razoável. Até nós entendemos que: 1, realmente temos muito a aprender com os mais velhos e 2, já temos algumas coisas a ensinar aos mais novos. Isso é uma epifania ótima. Sentimo-nos realmente valorizados quando as pessoas nos buscam para pedir conselhos ou indicações!
Os 33 parece que são só mais uma destas fases da flor da idade. São um fase de deixar a luta para trás mas ao mesmo tempo continuá-la de uma forma mais inteligente. Uma fase em que já não queremos determinadas coisas mas ao mesmo tempo ainda temos forças para lutar desesperadamente por outras (agora aparentemente mais certas). Ainda temos alguma coisa de revolucionários, mas já não é aquela garra e goela desalmada. Já pensamos estrategicamente no que  dizemos sem o dizermos estupidamente da boca para fora. Já conseguimos filtrar algumas coisas e empatizar com muitas situações ou pessoas, porque afinal de contas já estivemos lá... nessa situação difícil. Já temos histórias para contar. Antes (não sei precisar quanto tempo antes) ouvíamos muito mais do que o que contávamos. Agora temos as nossas próprias. Ou porque a família cresceu, ou porque viajamos, alguns de nós até emigraram! Conseguimos até competir com algumas histórias dos mais anciãos. Já tivemos algumas perdas também... antes isso era só para os mais “velhos”. Já conhecemos melhor o nosso corpo e os limites... sabemos com 100% de certeza que o tornozelo vai doer depois daquela aula x do ginásio. Sabemos que a pressão baixa junto com calor e secura corre mal. Sabemos melhor o que queremos comer, o que PODEMOS comer! Sabemos exatamente o ponto da carne que mais gostamos e claro, quando a comida está demasiado salgada o que nos vai obrigar a levantar a meio da noite para beber água. Sabemos que não estamos para ouvir desaforos. Trabalhamos, estudamos e ralamos para estar onde estamos e isso nenhum doutor ou outro cargo mais especial nos tira. 
Por outro lado, ainda não sabemos muita coisa. Será que com 33 anos dá para sabermos se estamos onde devíamos estar? Com “teoricamente” uma vida pela frente não há como tirar conclusões precipitadas! Muitos até acham que sabem, mas a vida vai passando algumas rasteiras e vamos nos desviando do que à partida seria o rumo que teríamos. Não que isso seja bom ou mau. Por causa dessas voltas todas que o mundo dá, também não sabemos o quanto tempo as pessoas de quem gostamos ou com quem queremos estar vão estar próximas. Aproveitamos BEM melhor pequenos momentos, inclusive os domingos de preguiça, tão raros nestes dias. 
Sabemos, isso sim, dar mais valor a quem lutou por nós e ainda luta, e dar menos valor a por quem a gente lutou e não teve sucesso. 
Ora os 33 fazem-me pensar que daqui para a frente só pode ser melhor. Tem que ser melhor pelos relatos. Ainda há tanta coisa para ver, sentir e viver...
E que estes 33 eles cheguem com a mesma vontade que muitos dos anos anteriores chegaram. Que tragam muita sabedoria e que venham mostrar que nos próximos poderei compartilhar que estava errada em muitas coisas e que pude melhorar. Que estava certa em algumas também para não parecer mal e depois virem dizer que não sabia nada da vida com 33!!!
Fiquem para os próximos. 



Mari